Amigos e familiares soltam balões brancos durante enterro de acreana morta em garimpo ilegal dentro de terra indígena no MT
26/09/2024
Flávia Melo de Miranda Soares foi enterrada na tarde desta quarta-feira (25) no Cemitério Morada da Paz, em Rio Branco. Jovem foi assassinada em um garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Sararé, em Pontes e Lacerda, na última segunda (23). Acreana morta em chacina no Mato Grosso é homenageada durante enterro no Acre
O enterro de Flávia Melo de Miranda Soares, de 20 anos, foi marcado por muita emoção, na tarde desta quarta-feira (25) no Cemitério Morada da Paz, em Rio Branco. Amigos e familiares soltaram balões brancos em homenagem à jovem assassinada durante uma chacina em um garimpo ilegal na segunda (23) no Mato Grosso.
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"Flávia era uma pessoa alegre, bem comunicativa, sorridente. Não tinha tempo ruim com ela, se arrumasse um amigo, ele virava parente. Estamos sem notícias da polícia e vamos correr atrás para saber", disse Ana Paula, uma das irmãs de Flávia.
O caso ocorreu dentro da Terra Indígena Sararé, em Pontes e Lacerda, a 483 km de Cuiabá. Quatro pessoas morreram e Fábio Tavares Siriano, de 33 anos, marido de Flávia, que sobreviveu ao ataque, está hospitalizado.
De acordo com a polícia, a chacina teria sido motivada após uma briga dentro do garimpo, por área de exploração. Uma das linhas de investigação da polícia é que os envolvidos tenham ligação com organizações criminosas.
Familiares e amigos prestaram homenagem à Flávia durante enterro
Reprodução
Uma equipe da Rede Amazônica Acre acompanhou o enterro da jovem e registrou a emoção dos familiares e conhecidos. A família fez campanha para arrecadar recursos e trazer o corpo de Flávia para Rio Branco.
"Quero agradecer a todos que ajudaram, sem ajuda de vocês a gente não teria conseguido. Ela merecia mais e mais, estamos dando um velório digno não só para a família, mas os amigos e para ela descansar. Queremos justiça porque quantas jovens não estão morrendo? Quantas já não passaram por isso? Vamos fazer justiça", disse.
Polícia investiga crimes cometidos em garimpo ilegal em Terra Indígena
Família não conhecia marido da jovem
Segundo a família, Flávia se mudou para Porto Velho, em Rondônia, há cerca de um ano. Há oito meses, após conhecer o marido, ela ficava entre a cidade de Pontes e Lacerda e a capital rondoniense enquanto Fábio trabalhava no garimpo.
O crime ocorreu em uma destas visitas. Durante o ataque, a jovem foi atingida com um tiro no pé e sangrou bastante até chegar ao hospital.
Flávia Miranda foi para o garimpo encontrar o marido, FábioTavares Siriano, também ferido
Arquivo pessoal
A
Flávia trabalhava vendendo semijoias e, antes de ir para o garimpo, avisou ao pai, que mora em Rio Branco. "Todo dia ela ligava e falava com a gente. Há um mês estivemos em Porto Velho, nos encontramos. Ela avisou para o meu pai que ia ver ele [Fábio], mas era normal. Ela ficava de um a dois dias e depois voltava [para Porto Velho]", contou Daniele Soares, umas das irmãs da vítima
Flávia e o marido foram socorridos por moradores próximos da região e levados de caminhonete para o Hospital Santa Casa. A jovem já chegou sem vida e Fábio em estado grave. As equipes médicas acionaram a polícia.
Em Rio Branco, a família da jovem começou a receber ligações avisando sobre o que tinha acontecido.
"Falaram que tinham matado ela, mas não acreditamos, entramos na internet buscando informações. Só acreditamos quando o pessoal do IML mandou a foto da identidade dela. Ela perdeu muito sangue, do local onde estavam para o hospital dá quase três horas de viagem ", acrescentou.
Crescimento da exploração
Documentarista registra degradação ambiental na terra indígena Sararé
A Terra Indígena Sararé abrange os municípios de Conquista D’Oeste, Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade. Nos últimos anos, a região tem sido alvo de uma intensificação das atividades garimpeiras, que ameaçam não apenas a integridade do meio ambiente, mas também a saúde e os modos de vida das comunidades indígenas locais.
A primeira operação das forças de segurança foi em maio de 2020, quando policiais desocuparam um garimpo ilegal de ouro. Porém, após a saída das equipes, os garimpeiros invadiram novamente.
Em abril deste ano, foram apreendidas 22 pás carregadoras avaliadas em mais de R$ 17 milhões, 39 motores estacionários, duas bombas d'água, um gerador e duas britadeiras foram destruídas, durante a "Operação que Ouro Viciado".
As escavações indiscriminadas provocam desmatamento, poluição dos rios e degradação do solo, o que afeta diretamente o abastecimento de água e a biodiversidade local. Segundo dados do Ministério Público Federal de 2022, a TI Sararé tem cerca de 5 mil garimpeiros.
Segundo lideranças indígenas da região, o território é uma área de grande importância ambiental e cultural, mas tem enfrentado sérios desafios relacionados ao garimpo clandestino.
Colaborou o repórter Lucas Thadeu, da Rede Amazônica Acre.
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